Manifesto

1ª Marcha do Orgulho LGBTQIA+ de Setúbal

Até que enfim! A 1ª Marcha do Orgulho LGBTQIA+ de Setúbal vai acontecer no dia 4 de outubro de 2025, às 16 horas, com início no Parque do Bonfim.

Sonhada e construída por nós, um grupo de pessoas lésbicas, trans, bissexuais, gays, queer, intersexo, assexuais, arromânticas e muito mais, e também por pessoas que não são nada disso. Somos mães, pais, avós, tias, familiares, amigues... Somos as pessoas que vocês vêem todos os dias na rua, no autocarro, no trabalho, na escola, nas finanças, na fila do pão e atrás do balcão, no governo e na prisão.

Mas há muita gente hoje em dia a dizer mentiras sobre nós. Não somos os monstros que criam nos vídeos e discursos da internet. Esta Marcha é uma oportunidade para largarem o telemóvel e olharem para nós em carne e osso. Nós somos Setúbal. Periferia e centro, centro e periferia.

Todos os dias nos dizem para estarmos caladinhas, para sermos discretas, para não fazermos alarido. Exigem que paremos de existir. Dizem-nos que ninguém tem nada a ver com o que fazemos entre quatro paredes. Mas nós não estamos aqui a falar apenas de sexo nem de temas para adultos, como algumas pessoas fazem parecer. Há crianças e velhos LGBTQIA+! Estamos a falar de famílias, de amor, de identidades e sexualidades, mas sobretudo, de pessoas.

Os direitos que conquistámos estão a ser revertidos em muitas partes do mundo, incluindo na Europa. A Ideologia de Género não é real, é algo que inventaram para distorcer a nossa imagem. O que nós e algumas de vocês sentimos na pele, todos os dias, é O Terrorismo de Género: É “homem não chora e a mulher sorri e cala” ou “tens de ser mulher ou homem, não podes ser outra coisa”, senão és excluíde do molde criado pelos donos da sociedade.

É por estes e outros motivos que a Educação Sexual é tão importante. Não é uma doutrinação das crianças. Não é possível convencer ninguém a ser homossexual ou trans. É possível sim escolher entre dois caminhos: criar um ambiente de medo onde as pessoas têm de se esconder, ou criar um ambiente de segurança e liberdade para toda a gente. Nós estamos a lutar pela versão da nossa cidade onde as pessoas são livres de opressão.

Mais: quando lutamos pela Educação Sexual estamos a falar de conhecimento, e conhecimento é poder. São inúmeras as histórias que conhecemos de pessoas que foram abusadas sexualmente na infância; ou que, ao aparecer a primeira menstruação, choraram a pensar que estavam a morrer ou esconderam a roupa interior debaixo da cama; ou de pessoas que engravidaram na adolescência ou apanharam uma infecção sexualmente transmissível; ou que foram proibidas de usar certas roupas por exigência do parceiro. Não tenhamos medo do nosso corpo. O corpo é a ferramenta mais bonita para viver e estar no mundo. Quando o desconhecemos ou odiamos tornamo-nos mais fáceis de subjugar, controlar, moldar, e é isso que os donos da sociedade desejam.

Preferem uma sociedade fechada e da ignorância, ou uma sociedade aberta e do conhecimento?

As primeiras marchas do orgulho LGBTQIA+ surgiram depois de uma revolta num pequeno bar em Nova Iorque, no ano de 1969. A polícia costumava violentar as pessoas que o frequentavam, principalmente trans, negras e latino-americanas, só por serem como são, até àquela noite em que disseram “basta” e resistiram. Este evento ficou conhecido como os Motins de Stonewall. Um ano depois, em 1970, para assinalar esta revolta, fizeram-se as primeiras marchas do orgulho gay e lésbico nos Estados Unidos da América. Só no ano 2000 acontece a primeira do nosso país, em Lisboa, e só agora em 2025 organizamos a primeira em Setúbal. Até que enfim!

A homofobia, a transfobia, o racismo, o capacitismo, a misoginia e o machismo não desapareceram; são pilares bolorentos que sustentam o sistema em que vivemos. A polícia não deixou de fazer rusgas em bares queer. Ainda este ano houve vários episódios de rusgas policiais de violência injustificada em espaços queer de Lisboa, curiosamente também muito frequentados por pessoas trans e racializadas, interrompendo o nosso direito ao convívio, ao prazer, ao estarmos juntas.

Setúbal é a cidade onde muitas de nós vivemos. Na primeira reunião de organização desta marcha perguntámos: "Porquê uma marcha aqui?” As respostas foram: “Porque quero viver numa cidade mais inclusiva", "Porque quero fazer algo fora da capital”, ou “Porque quero construir comunidade.”

Setúbal, esta cidade de resistência. Setúbal, esta cidade que convive com a serra, o mar e o rio. Setúbal, esta cidade segregada por zonas, classes e etnias, não acessível a todas as pessoas. Onde há tantos edifícios e serviços deficientes de rampas, de elevadores, de braille, de traduções e noções. Onde há tanta gente sem casa e tanta casa sem gente. Onde as zonas mais pobres ficam tão perto mas tão longe. Muita coisa tem de mudar na cidade, e não é apenas na questão LGBTQIA+. Está tudo ligado. A nossa luta é só uma.

Dizem-nos que somos da margem Sul. Nós dizemos: "da margem Norte do rio Sado", porque este rio nunca deixou de ser rebelde, a correr ao contrário do que seria esperado. Porque, na verdade, anti-natura é não respeitar a natureza. E já agora, fica o facto científico: sabem que até os massacotes mudam de sexo? E outros peixes, como as judias, e os alcorrazes? Ainda não se falava em linguagem inclusiva e em Setúbal já dizíamos “apá miga” a pessoas de qualquer género. É tão natural como peixe dentro de água.

E se esta é a primeira vez na cidade e também no distrito de Setúbal, gostaríamos que houvesse mais primeiras marchas em todo o país, e em todos os países, e que esta liberdade se estendesse a todo o globo, onde ainda há tantos sítios onde ser diferente da norma dá pena de morte. Queremos afirmar aqui que acreditamos que um dia a Palestina também será livre e também em Gaza haverá uma marcha que ocupará as ruas e onde se ouvirá “Até que enfim!”

Porque sonhar é isto: querer um mundo melhor, não só para alguns de nós, mas para todas, todos e todes nós.

Então esta não é uma marcha só para as pessoas lésbicas, gays, bissexuais, queer, trans, intersexo e assexuais. É para todas as pessoas que gostariam de viver com mais liberdade.

Continuemos esta fluência de corpo resistente e existente, onde cada pessoa é uma gota que forma este rio tão diverso e colorido. Que este manifesto escorra pelos corpos e rachas do mundo, onde continue a nutrir o respeito e compaixão por cada ser que é e vive.

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